"Há quem diga que todas as noites são de sonhos. Mas há também quem garanta que nem todas, só as de verão. No fundo, isso não tem importância. O que interessa mesmo não é a noite em si, são os sonhos. Sonhos que o homem sonha sempre, em todos os lugares, em todas as épocas do ano, dormindo ou acordado. "
(Shakespeare, Sonhos de Uma Noite de Verão)

terça-feira, 27 de maio de 2008

Encontro com o escritor

No nosso primeiro encontro com o escritor, tivemos a companhia de dois grandes nomes da literatura infanto-juvenil, André Neves e Jonas Ribeiro.

André Neves nasceu em Recife e mora em Porto Alegre. Formado em Relações Públicas, começou a estudar Artes Plásticas em 1995. Desde então, atua como escritor e ilustrador de suas obras e de outros autores. É arte-educador e promove palestras e oficinas sobre Literatura Infantil e Juvenil.
Jonas Ribeiro é formado em Língua e Literatura Portuguesa pela PUC/SP. Participa de vários projetos de incentivo à leitura e já percorreu mais de 648 escolas das redes pública e particular; contando histórias, ministrando cursos e divulgando seus livros.

Os dois são amigos e já publicaram livros juntos. Durante o fórum, Jonas Ribeiro contou algumas de suas histórias de forma dinâmica e interativa, utilizando a linguagem corporal e a palavra, contextualizando o cotidiano popular para dar vida às personagens de alguns de seus livros.
André Neves falou sobre as ilustrações dos seus livros, ressaltou que a ilustração é componente fundamental de uma história, ela é um auxiliar visual didático, uma verdadeira interação com o texto escrito.
Contar histórias é levar a criança e o adolescente a um mundo além da imaginação. Uma história bem contada pode despertar no aluno a vontade de ler um livro e quem sabe até de ir em busca de outras histórias que o faça viajar para outros mundos.

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Variação Lingüística

A nossa língua não é usada de modo homogêneo por todos os seus falantes. O uso de uma língua sofre variações de acordo com uma época, uma região, uma classe social, etc. Além do mais, cada um de nós, dependendo da situação, pode fazer uso de diferentes formas da língua no ato de comunicar-se.

Sabemos que durante muito tempo e até certo ponto, ainda hoje, o ensino de língua portuguesa no Brasil vem sendo acompanhado por um certo preconceito linguístico. Algumas pessoas com um alto nível de escolarização, acreditam que falam "melhor" e mais "bonito" porque são capazes de dominar alguns usos complexos da escrita, ao mesmo tempo julgam aqueles que não puderam frequentar a escola ou que pouco frequentaram, dizendo que eles falam "tudo errado" ou ainda, que "falam feio".

Quantos de nós professores já não nos deparamos dizendo diante de um erro: "essa doeu em meu ouvido", "assassinaram a gramática", e outras expressões carregadas de julgamentos que ao invés de ensinar o aluno, só faz depreciá-lo. Podemos perceber a consequência de uma forma errada de corrigir relatada no texto "Nóis mudemo"de Fidêncio Bogo, lido no encontro de hoje. O garoto se sentiu tão humilhado diante da gozação da turma por sua forma de falar, que nunca mais voltou à escola. O resultado dessa evasão escolar foi a consequente exclusão social, até pela cadeia o personagem passou. A escola é o único meio capaz de retirar o cidadão dessa exclusão e para tanto é preciso romper com essa repressão diante da forma de se comunicar.

Felizmente, nos últimos anos com o surgimento da sociolinguística o papel da escola vem passando por mudanças significativas no estudo da língua. A sociolinguística reconhece que existe uma variedade linguística, ou seja, cada grupo social tem um modo de falar característico.
Acima dessas variedades há uma norma-padrão, considerada a língua correta e de prestígio social. Cabe à escola levar aos alunos o conhecimento das formas prestigiadas da língua, sem ridicularizá-los diante do uso das variedades linguísticas que fazem parte de sua identidade cultural e social. O nosso grande desafio é fazer com que nosso aluno amplie seu repertório linguístico de uma forma tranquila através da prática da leitura e escrita, sem exercícios mecânicos e descontextualizados.

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Como eu falo?

Falar alto ou falar baixo, falar com autoridade ou com ternura, falar bem ou não conseguir se expressar; não importa como falamos, o que importa é que a fala é a identidade individual de cada um de nós. Através da fala podemos expressar o que pensamos, dizer o que sentimos e interagir com diferentes pessoas, mas ao mesmo tempo ficamos expostos a julgamentos e avaliações por parte de quem nos ouve.

A fala também pode dividir e gerar discriminação, principalmente nas sociedades em que há uma estratificação de classes sociais, econômicas, culturais, etc. Existem aqueles que se dizem "dominantes da língua culta", cujo falar pode ser considerado "certo", em contraposição aos que são estigmatizados de "falar feio".

O importante é que entendamos que todos temos direito à fala e que o fato de poder se comunicar não tem nada a ver com o julgamento do que é certo ou errado na língua. Nós, como professores, temos que tomar cuidado com o preconceito linguístico, atribuindo prestígio ou estigma às diferentes falas. Não significa que a língua que nosso aluno usa, estigmatizada como errada, não deva ser corrigida. O que precisa mudar é a forma de mostrar para ele que existe uma diferença entre a linguagem falada e a escrita, e que o domínio da norma culta da língua poderá lhe dar poder e controle social.

A linguagem humana não é homogênea e estática, ao contrário, sua maior característica é a sua capacidade de variação e mudança, por esse motivo é que parece existir um grande foço entre a língua falada e a língua escrita. Sabemos também que o uso de formas variadas na língua está ligado ao grau de escolarização e nesse sentido, em nosso país, permanecer um período mais prolongado numa escola de qualidade, depende da renda econômica de cada um. Dizer que um cidadão que fala "armoçá" ao invés de "almoçar" não sabe falar é uma forma de discriminá-lo. Destacar esse erro não vai ajudá-lo a aprender, e sim, afastá-lo da escola.

O importante é que entendamos que todos temos direito à fala e que o fato de poder se comunicar não tem nada a ver com o julgamento do que é certo ou errado na língua. Nós, como professores, temos que tomar cuidado com o preconceito linguístico, atribuindo prestígio ou estigma às diferentes falas. Não significa que a língua que nosso aluno usa, estigmatizada como errada, não deva ser corrigida. O que precisa mudar é a forma de mostrar para ele que existe uma diferença entre a linguagem falada e a escrita, e que o domínio da norma culta da língua poderá lhe dar poder e controle social.
Vamos repensar nossa forma de ensinar a língua materna...

"Escolas que são asas não amam pássaros engaiolados. O que elas amam são pássaros em vôo. Existem para dar aos pássaros coragem para voar. Ensinar o vôo, isso elas não podem fazer, porque o vôo já nasce dentro dos pássaros. O vôo não pode ser ensinado. Só pode ser encorajado..." (Rubem Alves)